Visitamos o Museu Nacional de Arte, Arquitetura e Design de Oslo (Noruega) e conversamos com o arquivista Vidar Ibenfeldt. Vidar é responsável pela administração do sistema de arquivamento e ele e a equipe do Museu Nacional fizeram um ótimo trabalho na digitalização de arquivos do antigo museu.
Eles também estão iniciando alguns projetos interativos baseados em inteligência artificial, com o objetivo de, nas palavras dele, “aumentar o conhecimento e o compromisso com artes visuais, arquitetura e design, desenvolver o senso crítico, criar maior consciência histórica e tolerância para a diversidade”.
Isso não seria possível sem o conteúdo do seu grande acervo digital, que tem mais de 1.000.000 de itens, incluindo as imagens de diversos ângulos de objetos, para criar fotogrametria 3D.
– Temos aproximadamente 100.000 fotos de alta qualidade, entre obras de arte e eventos, por exemplo. Nós tiramos de 50 a 100 fotos de cada evento e realizamos eventos quase toda semana! – explica Vidar.
O problema que o Museu Nacional enfrentava
– Os nossos ativos estavam espalhados em diferentes discos rígidos, em PCs diferentes, em todos os lugares. Não havia um repositório único de arquivos. Cada pessoa tinha seus itens armazenados em seu próprio computador. O Departamento de Fotografia, também responsável pelo acervo digital, precisava de uma ferramenta que permitisse obter uma visão geral de todos os ativos. Por isso, nos decidimos por um sistema integrado para gerenciamento de ativos digitais (DAM – Digital Asset Management) e escolhemos a FotoWare – esclarece Vidar.
– Antes disso, os fotógrafos tinham quase o dobro do trabalho do que têm agora, após produzirem suas fotos. Além de tratar as fotos, eles levavam muito tempo para classificá-las e inserir os metadados manualmente. O fluxo montado no novo sistema trouxe muita economia de tempo neste processo.
Fluxos de trabalho como parte da transformação digital
O museu possui uma grande quantidade de ativos, usados por diversos departamentos dentro da organização. Com tanto conteúdo para manipular, fluxos de trabalho eficientes são essenciais para garantir que o mínimo de tempo seja gasto nas tarefas diárias. Vidar explica como os processos ocorrem no Museu Nacional:
– Começa com uma solicitação de algum cliente ou de um colega de outro departamento. Costumamos receber de 5 a 20 solicitações por dia. Por exemplo, o Departamento de Comunicação é responsável por alimentar o nosso site na Web, produzir boletins informativos e atualizar nossas mídias sociais. Se quiserem publicar alguma coisa e precisarem de uma foto específica, eles farão uma solicitação através do sistema. Quando recebo esta sinalização, eu verifico se temos os ativos em nosso sistema e os disponibilizo diretamente para eles. Algumas vezes, eu monto um álbum digital dentro do próprio sistema, a partir do qual eles podem visualizar e baixar as imagens que preferirem utilizar.
– Também temos clientes externos que podem solicitar imagens à nossa agência de imagens. Como estamos no início deste processo, o que temos atualmente é somente uma página na Web com informações sobre direitos autorais e preços, além de um formulário simples para que possam se identificar e informar o que procuram e a finalidade de uso.
Imagens de fundo (National Museum / Frode Larsen)
Como o “machine learning” pode ajudar instituições como museus e galerias de arte
Vidar está envolvido em projetos que buscam associar Inteligência Artificial ao processo de arquivamento:
– Inserir metadados é sempre um grande trabalho. Eu tenho acesso ao registro de pesquisas no nosso sistema de gerenciamento de ativos digitais e posso ver todas as palavras inseridas mas pesquisas feitas pelos usuários. Isso significa que posso identificar termos que eu não julgava serem palavras-chave relevantes, mas que são efetivamente utilizadas pelas pessoas em suas pesquisas e que seriam importantes na indexação do nosso material. Afinal, as pessoas pesquisam o que está em suas mentes!
– O uso de inteligência artificial vai nos ajudar neste trabalho de identificação de novas palavras-chave e aplicá-las aos nossos ativos.
Vidar cita outro caso de como a inteligência artificial poderá auxiliar o processo de entrada de metadados – como na preparação para campanhas comemorativas, por exemplo:
– No Halloween, vejo pessoas pesquisando por pinturas “assustadoras” ou “aterrorizantes”, mas não temos essas palavras em nossos metadados. Porém, se a imagem for realista o suficiente, a inteligência artificial talvez possa determinar algo como sendo “assustador” ou “bonito”, ou se tem um lago, uma floresta ou um barco, por exemplo, sem que a gente precise fazer estas descrições manualmente.
O mesmo se aplica no Natal, quando obras de arte podem ser usadas novamente em campanhas:
– Se descrições como “bonito”, “neve”, “inverno” etc. pudessem ser geradas automaticamente como metadados, seria de grande utilidade para os usuários, porque não temos tempo para inserir esse tipo de metadados manualmente. Não conseguiríamos digitar todas as palavras que as pessoas pesquisam.
Nasjonal Museet DAM – Munch Screenshot
Transformação a partir da informação
O Museu Nacional construiu uma escultura digital em 3D utilizando os metadados armazenados nos arquivos. O projeto foi feito com o apoio do Arts Council of Norway e criado em parceria com a Bengler AS. A obra é composta por blocos que representam os artistas e cujos tamanhos representam a quantidade de trabalhos de cada artista, existentes no museu.
– Se temos muitos trabalhos de um determinado artista, o seu bloco é grande e, se temos apenas alguns itens, a peça é pequena. Como resultado, temos essa escultura digital em 3D da nossa coleção, que pode ser vista de todos os ângulos. Você pode clicar nos blocos e obter as informações do artista e de todas as obras de arte em sua seção. Além disso, todos os artistas masculinos são exibidos como blocos azuis, enquanto os de artistas femininas são vermelhos.
É curioso observar que a escultura é quase toda azul – e Vidar aproveita a deixa para refletir:
– O poder dos metadados pode nos ajudar a ter consciência de como as artistas mulheres são sub-representadas e, em função disso, provocar discussões valiosas, gerando ações para lidar com tais desequilíbrios.
Escultura digital 3D (http://repcol.bengler.no/)